Authenticity vs Performance: Personal Branding in the Age of Masks (PT)
Note to my English-speaking readers: Although this website is primarily in English, I’ve chosen to write this article in Portuguese. The topic – how we navigate authenticity and performance in our personal branding – feels deeply rooted in cultural nuance and lived experience. Writing in my native language allows me to explore it with greater emotional precision and resonance. Whether you speak Portuguese or not, I invite you to dive in and enjoy the spirit of the piece.
Num mundo que exige constantes máscaras, construir uma marca pessoal assente na verdade é um verdadeiro acto de coragem.
A Fábula do velho, do rapaz e do burro
Conta-se que um dia um velho e o seu neto iam com um burro em direcção à aldeia. Primeiro, ambos caminhavam ao lado do animal. E quando se cruzaram com uns homens à beira da estrada, eles exclamaram:
— Que tolos! Têm um burro e vão a pé!
Então o velho montou no burro e o rapaz foi a pé. Aí outros disseram:
— Que homem cruel! Devia ter vergonha! Então o neto é que vai a pé, um rapazinho ainda de tão tenra idade? Sinceramente…
Trocaram de lugar. Mais à frente no percurso, encontraram duas mulheres. Elas, mal viram o rapaz em cima do burro, disseram:
— Que falta de respeito! O jovem montado e o velho a pé! Coitado do senhor, não deve poder com as pernas…
Decidiram então subir os dois no burro.
— Pobrezinho do animal! — diziam outros.
Por fim, carregaram o burro às costas — e todos se riram deles.
Moral da história: quem tenta agradar a todos acaba por não agradar a ninguém, pois haverá sempre alguém disposto a criticar aquilo que fazemos.
Pergunto: também hoje não é assim?
Entre o que somos e o que mostramos
Vivemos numa era em que a exposição é constante e a imagem parece valer tanto ou mais do que a própria essência. De facto, nas redes sociais como no meio empresarial, a notoriedade é um elemento-chave na atracção de potenciais clientes, parcerias ou na progressão de carreira; como tal, a construção da “marca pessoal” tornou-se uma ferramenta poderosa de autopromoção e diferenciação face aos demais concorrentes, segundo os objectivos de cada um. Contudo, este trabalho de projecção de qualidades e virtudes não deixa de ser uma armadilha de fino recorte. Entre a vontade de agradar e a necessidade de ser verdadeiro; entre a necessidade de actuar e a vontade de ser autêntico, muitos enfrentam o seguinte dilema: mostrar o que os outros querem ver ou revelar quem realmente sou?
O presente artigo propõe uma reflexão sobre esta tensão premente entre espelhos e janelas, a partir do olhar de duas personalidades e à luz de práticas de storytelling que valorizam marcas com propósito e verdade.
1. A voz da Nave del Misterio
História de bastidores: a inspiração para esta partilha surgiu após ter assistido ao vídeo La marca personal, um breve monólogo da autoria de Iker Jiménez – um jornalista e apresentador de televisão espanhol que se tem destacado ao longo dos últimos vinte anos como um dos comunicadores mais carismáticos do país vizinho.
Conhecido pelos programas Cuarto Milenio e Horizonte, o influencer espanhol construiu uma marca pessoal que não se limita à informação formatada dos telejornais. Ao invés, ele navega com paixão e assombro por temas ditos controversos – política, ciência, religião, saúde pública, fenómenos paranormais – com uma postura electrizante que privilegia a curiosidade, a reflexão e a liberdade: “Entusiasmo es mi palabra favorita. Peleo por mantener el Alma de niño. Creo que la vida es un Milagro y un Misterio”. Com efeito, a sua Nave del Misterio – expressão característica do seu trabalho e da comunidade que o segue – não navega somente por mares nunca antes navegados, mas pela verdade incómoda que alguns preferem ignorar ou desqualificar.
A sua coragem em dar voz a posições dissidentes num canal de televisão generalista, em pleno horário nobre, é um exemplo dessa marca singular. Recordo-me, por exemplo, de o Iker ter sido uma das primeiras pessoas a convidar médicos “negacionistas” que, no pico da pandemia, alertaram para os potenciais efeitos secundários das vacinas contra a COVID-19; ou do seu relato in loco, nu e cru, do abandono absolutamente aflitivo que a população da comunidade de Valência sofreu durante o fenómeno DANA, em Outubro de 2024. Em qualquer um dos casos, o seu objectivo não era agradar, bajular ou ganhar audiências, mas sim informar livremente. E houve consequências: desde a perda de contratos publicitários, ao insurgimento de alguns sectores da sociedade espanhola exigindo o cancelamento do seu programa, até ao fecho temporário do seu canal de YouTube devido a um suposto ataque hacker. Ora, pese embora estes percalços, a realidade é que o seu trabalho periodístico soma e segue, assim como o valor da sua marca.
Ao contrário da fábula do burro, a prioridade do Iker não é ser fiel a todos; é ser fiel a si mesmo e à sua missão: falar a verdade ao grande público sem medo de rotulações. E isso, nos dias hoje, além de autêntico, é também revolucionário. ¡Olé, Iker! ¡Olé!

2. Tribunal: o palco da vida de um actor
Na Grécia Antiga, os hypokritēs eram actores que usavam máscaras para interpretar personagens nas peças teatrais. Com o tempo, o termo passou a designar, de forma pejorativa, pessoas que fingem ser o que não são. Seja por necessidade ou oportunismo, muitos constroem marcas pessoais baseadas em performance e validação externa, optando assim por surfar a onda da moda a fim de manter o seu status, a sua reputação, a sua rentabilidade.
Pois bem, para remar contra esta maré, há um actor conceituado da nossa aldeia global que, sendo mestre na arte de colocar máscaras no plateau, decidiu retirá-las num filme dramático da vida real. Refiro-me ao inigualável Johnny Depp. Guião: Estados Unidos. 18 de Dezembro de 2018. A actriz e ex-mulher do actor, Amber Heard, publica um artigo de opinião no Washington Post intitulado: I spoke up against sexual violence – and faced our culture’s wrath. That has to change.
Resumindo: na sequência desta denúncia, ambos viram-se involucrados numa acesa batalha judicial no ano de 2022, após o processo de difamação de 50 milhões de dólares movido por Depp contra a sua ex-companheira, alegando danos reputacionais. Como devem imaginar, este não foi só mais um litígio entre um ex-casal, mas um autêntico show; um show que envolveu duas celebridades do mundo do entretenimento em torno de um tema delicado e politicamente instrumentalizado. Sem surpresa, o caso desenrolou-se diante dos olhos de milhões de pessoas em todo o mundo – as audiências eram transmitidas em directo no canal de YouTube Law&Crime Network –, o que aguçou o apetite dos media durante seis intensas semanas de cobertura mediática.
Ora, como parte do meu trabalho de formador de comunicação, aventurei-me a analisar um dos depoimentos de Depp num artigo do meu blog, encarando-o como um case-study a debater com os meus alunos. Porquê? Porque, sendo ele actor, era interessante perceber até que ponto a sua performance era, na realidade, congruente com a sua pessoa ou, pelo contrário, baseada num papel fake a desempenhar à medida da ocasião.
A verdade é que, feita a devida análise, a performance do Johnny pode ser classificada como magistral; diria até mais: tratou-se de uma masterclass de pura autenticidade. À pergunta: “Can you please tell the jury how you met Miss Heard?”, Depp, depois de uns segundos de introspecção, responde: “Around 2008 Hunter Thompson and I were going through some of his manuscripts of his books…”, ou seja, começa a contar uma história que, além do conteúdo em si (repleto de cenas inusitadas), revela precisamente a natureza do seu carácter: voz rouca e grave, postura descontraída, raciocínio elaborado, discurso eloquente e pausado, como que a reviver o momento narrado. Conhecendo o seu historial de intervenções públicas, são estes pormenores (entre outros que eu examino no artigo) que nos permitem concluir que o indivíduo que estava a declarar no tribunal não era um actor a interpretar um papel, mas uma pessoa a mostrar a sua verdadeira face. No fim de contas, ele tinha uma missão muito clara a cumprir: lutar pela verdade dos factos a fim de restaurar o seu bom nome. Sentença do processo: positivo para o seu lado – a justiça deu-lhe razão. Bravo, Johnny! Bravo!

Autenticidade vs Performance: o dilema de cada vida
Cada um de nós, no desenrolar das vidas pessoal e profissional, testemunha este braço de ferro entre autenticidade e performance vezes sem conta. Basta pensar nos elementos mais íntimos do nosso ser – como um talento ou traço de personalidade que, por vergonha ou medo, preferimos não revelar –, até àqueles momentos em que, de repente, o nosso interior choca de frente com o mundo exterior. Exemplo: lembram-se daquele jantar de família ou de amigos em que toda a gente concorda com uma ideia que vocês abominam completamente? E então surge o dilema: “Calo-me e deixo passar, ou digo o que penso sem rodeios?”.
Enfim, seja qual for a nossa postura e maneira de estar na vida, a autenticidade tem sempre um preço, por isso cabe a cada um decidir, à luz da sua consciência, até onde está disposto a ir – e o que está disposto a abdicar – para defender os seus princípios.
Em todo o caso, eu acredito que qualquer marca pessoal só tem força e credibilidade quando nasce da verdade – mesmo que essa verdade incomode a maioria do momento. E isso exige coragem, firmeza, e até uma dose saudável de loucura!
“Ó Tomás, isso é tudo muito bonito, mas…”
Bem sei: vivemos numa sociedade crispada, temos de pagar contas e a autenticidade tem limites; caso contrário, tornar-nos-íamos seres alienados e desprovidos de empatia. É necessário, portanto, conhecermos o nosso público-alvo; compreender as dinâmicas e códigos sociais; escolher as palavras certas para afirmar as nossas posições e, naturalmente, respeitar quem pensa diferente de nós. Contudo, num mundo híper sensibilizado com propensão crescente à vitimização – e em que a censura é muitas vezes disfarçada de fact-checking ou “combate à desinformação” –, o risco de ficarmos calados por medo de represálias é cada vez maior: “Epá esquece essa ideia, porque isso vai trazer-te problemas… Investe mas é nestas tendências, porque é o que as empresas estão a pedir…”. E lá vamos nós para mais um Carnaval, rodopiando num contínuo baile de máscaras…
Eu acredito que não tem de ser (sempre) assim. Mesmo quando se trata de negócios. No curto prazo, pode gerar prejuízos, críticas e perdas de oportunidades. Mas no médio e longo-prazo, gerará parcerias genuínas, rentáveis e alinhadas com os nossos valores. Desse modo, quem tem a coragem de saltar do muro e assumir aquilo que é; quem opta pela via da autenticidade em detrimento da performance, acaba por ver o seu valor reconhecido. Como ensina a sabedoria milenar, a verdade é um fruto doce de raiz amarga.
Storytelling: uma ferramenta de verdade, para a verdade
As histórias são um excelente elo de ligação entre quem somos e a forma como nos vêem. O facto de partilharmos experiências pessoais como “prova viva” da nossa marca ajuda-nos a encarar o storytelling como um veículo extraordinário para transmitir mensagens com propósito. Quando usado com mentira, transforma-se numa ferramenta perigosa de divisão; quando usado com verdade, transforma-se numa ferramenta poderosa de libertação.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” – João 8:32
No meu caso, acredito que contar histórias com verdade é um verdadeiro acto de Fé. Como cristão, encaro a Bíblia não apenas como um livro culturalmente rico e/ou moralmente edificante, mas como a Palavra de Deus revelada aos homens que é viva e eficaz (cf. Heb 4:12), capaz até de amolecer o mais duro dos corações. E é essa Verdade que, desde a minha conversão, me guia na forma como me relaciono com o mundo e como construo a minha marca pessoal.
“Porventura procuro a aprovação dos homens, ou a aprovação de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se procurasse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.” – Gálatas 1:10
Sim, o apóstolo Paulo tem razão. Como cristão, é inevitável sentir a tensão entre a pressão do mundo que não crê e a coerência de vida que o Evangelho pede. Porém, eu, como todos os discípulos de Cristo, sou chamado a ser anjo mensageiro, evangelizando com a própria vida a maravilha que é ter uma relação pessoal e íntima com Deus; o Pai Criador que ama tanto a Sua criatura ao ponto de sacrificar a vida do Seu Único Filho na Cruz pela salvação de todos nós. Como tal, faço por corresponder à Sua Vontade dando testemunho da minha Fé e glorificando-O em palavras e obras, para não cair na armadilha do “cristão Raimundo”: com um pé na Igreja, e um pé no mundo 🙂 Se é fácil? Não – o que só enobrece esta missão. Glória a Vós, Senhor! Glória a Vós!

Por fim, as histórias que aqui evoquei do Iker Jiménez e do Johnny Depp são exemplos de como narrativas reais e autênticas fortalecem uma marca pessoal, sobretudo em situações-limite. Não são perfeitas nem nunca serão, mas brotam do coração.
E tu: que histórias podes contar que revelem a marca que realmente és, e que desejas promover junto dos teus públicos-alvo? Se queres construir uma marca pessoal com propósito – seja para clientes, parceiros, familiares ou amigos –, começa por aqui: tomasvpstoryteller.com.
À luz da minha mentoria de Marca Pessoal, estou disponível para te ajudar, primeiro que tudo, a seres verdadeiro contigo mesmo e com a tua história – pois ela dar-te-á pistas para a descoberta da tua missão como meio de realização pessoal e de serviço ao próximo. Porque a autenticidade não é apenas uma escolha; é um acto de coragem e de amor à vida.
P.S. Curiosamente, ao decidir se devia publicar este artigo em português ou inglês, deparei-me com o mesmo dilema que aqui exploro: agradar a todos ou ser fiel à origem da mensagem?
Escolhi o português, porque esta reflexão nasceu de uma inspiração profundamente pessoal e cultural ligada à minha história de vida. Por um lado sou português e adoro a língua portuguesa. Por outro lado, o tema está intrinsecamente ligado ao vídeo do Iker, que é espanhol. Assim, esta conversa, antes de ser global, é ibérica, íntima e pessoal. E isso, para mim, é autenticidade.




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